Cícero, denunciando Catilina no Senado

Cícero, denunciando Catilina no Senado

27 março, 2008

Essa é que é essa


«A penalização por não participares na política, é acabares a ser governado pelos teus inferiores.»
Platão

15 março, 2008

Dúvida jurídica

Andando de blogue em blogue, fui parar a uma página de advogados. Li lá uma coisa que não percebi. Como sei que há juristas nesta chafarica (ou, se calhar, advogados), peço que me esclareçam que estado civil é este: separada de facto.
Mas expliquem-me devagar para eu poder perceber.

11 março, 2008

Saudoso Eça


Governo dá uma «mãozinha» na acção de Paulo Pedroso contra o Estado


DONA «TRAPALHADA» II
Um documento de Catalina Pestana apareceu misteriosamente nas mãos do advogado de Paulo Pedroso. E quem o passou foi o chefe de gabinete do ministro Vieira da Silva. A juíza já participou ao Ministério Público. O caso prova as ligações entre o Governo e Paulo Pedroso, num caso em que este processa o Estado...

07 março, 2008

PIDESCO


Agentes da PSP, cumprindo ordens, estão a ir às escolas perguntar quem são os professores que vão à «marcha da indignação», uma manifestação de professores do ensino básico e secundário marcada para amanhã, em Lisboa.
É uma loucura. Estamos no mês de Março… mas parece que de 1974!
Onde está o PR?
Não está em causa «o regular funcionamento das instituições democráticas»?

06 março, 2008

A propósito de cultura popular


«Ser alentejano não é um dote, é um dom...»


Palavra mágica que começa no Além e termina no Tejo, o rio da portugalidade. O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do Homem Português, fugiu de Espanha à procura do mar.

O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da planície dão-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do monge; as amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro. Não é alentejano quem quer. Ser alentejano não é um dote, é um dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano.
Portugal nasceu no Norte mas foi no Alentejo que se fez Homem. Guimarães é o berço da Nacionalidade, Évora é o berço do Império Português. Não foi por acaso que D. João II se teve de refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.

Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia para D. João II perceber que só o costado de um alentejano conseguia suportar com o peso de um empreendimento daquele vulto. Aquilo que para o homem comum fica muito longe, para um alentejano fica já ali. Para um alentejano não há longe, nem distância porque só um alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.

Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar... E, quando regressou, ao perguntar-lhe se a Índia era longe, Vasco da Gama respondeu: «Não, é já ali.». O fim do mundo, afinal, ficava ao virar da esquina.
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Para um alentejano, o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado. O problema de Portugal é precisamente este: muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, que desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja, muitos portugueses e poucos alentejanos.D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário, não teria partido tão confiante para Aljubarrota. D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes. É certo que o Rei de Castela contava com um poderoso exército composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia-dúzia de alentejanos. Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica:
- «Vocês são muitos? O que é que isso interessa se os alentejanos estão do nosso lado?»

Mas os alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras. Não há como um alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. Por isso, se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem. Mas, depois, teve de fazer os alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este, intrigado, lhe perguntou o que é que o alentejano tinha que ele não tinha:
- «Tem tempo e tu tens pressa.»

Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher. Andar a correr é um problemaque os alentejanos, graças a Deus, não têm. Até porque os alentejanos e o Alentejo foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.

E até nas anedotas, os alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. Os brancos contam anedotas dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos... só os alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios. E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.

Mas para que uma pessoa se ria de si própria não basta ser ridícula porque ridículos todos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.
Não se confunda, no entanto, sentido de humor com alarvice. O sentido de humor é um dom da inteligência; a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objecto de uma boa gargalhada. O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto aalarvice diminui-as. Se Hitler e Estaline se rissem de si próprios, nunca teriam sido as bestas que foram.

E as anedotas alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis.Não resisto a contar a minha anedota preferida. Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro. Por sinal, um alentejano que estava todo molhado, em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta.
- «Ó amigo, por que é que não fecha a janela?», perguntou-lhe o revisor.
- «Isso queria eu, mas a janela está estragada.», respondeu o alentejano.
- «Então por que é que não troca de lugar?»
- «Eu trocar, trocava... mas com quem?»

Como bom alentejano que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim. O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. Água é aquilo por que qualquer alentejano anseia. E o pão... Mas há melhor iguaria do que o pão alentejano? O pão alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa. E é o único pão do mundo que não tem pressa de ser comido. É tão bom no primeiro dia como no dia seguinte ou no fim da semana. Só quem come o pão alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. Comê-lo faz-nos subir ao Céu!

É por tudo isto que, sempre que passeio pela charneca numa noite quente de Verão ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de Inverno, dou graças a Deus por ser alentejano. Que maior bênção poderia um homem almejar?

Santana-Maia Leonardo (foi corrigido o título do texto e o nome do autor)

04 março, 2008

Um anúncio

Este blog é culto e quer-se culto; mas não resisto a colocar aqui isto.
Como dirá a esquerda sobrevivente (à custa de quem?), se é popular também é cultura!
Este foi o anúncio que atirou Steve Mizerak para o público geral, isto é, para além do público que já o conhecia do pool ou snooker. Grande jogador, com vários títulos nos EUA, foi a cerveja Miller que lhe deu grande fama.
A dificuldade do filme não esteve só em embolsar as bolas; na última, o Mizerak olhava para a branca para ver se metia a outra mas não era isso que ele tinha que fazer; ele tinha que levantar o copo de cerveja e olhar para a câmara de filmar, deixando a bola andar.
Isto está no livro Steve Mizerak's Pocket Billiards Tips and Trick Shots, do próprio e Joel H. Coehn.


01 março, 2008

Moral e bastonadas


Este intelectual é uma figura bizarra e até algo esquizóide. Diariamente (é uma espécie de pulsão obsessivo-compulsiva), em ritmo quase coreico, berra contra os juízes, que taxa de Torquemadas, mas esquece-se que Torquemadas nada poderiam, num sistema penal moderno, sem a passividade bovinóide de muitos defensores (quem conhece o destino dos condenados no âmbito da execução das penas abe bem do que falo). Depois, em bom estilo jacobino, clama por um sem número de incompatibilidades entre o exercício da advocacia e outras profissões ou cargos, mas parece nunca se ter lembrado que aquele nobre "munus" deveria ser incompatível, antes de mais, com a função de jornalista. Depois ainda, insurge-se contra o novo e efectivamente aberrante sistema de remuneração dos defensores, notório instrumento de funcionarização do advogado, mas não se dá conta, coitado, que um tal regime é em tudo próprio do estilo sans-cullote que é a marca de água as suas intervenções e em que, de modo intencional ou não, está a transformar a advocacia. Talvez com excepção do próprio, todos já se aperceberam da dimensão lilliputiana da autoridade moral do homem. Mesmo dentro da agremiação a que agora, por infelicidade dos agremiados, preside.

Relação análoga à dos cônjuges, mas mágica


Na recentíssima «reforma penal» a «unidade de missão» (cujo homem do leme era o agora Ministro da Administração Interna) alterou o crime de «maus tratos», cindindo-o em dois (o que até nem parece mal), alterando-lhe também a respectiva redacção (e aqui é que as coisas começam a ter graça).
Ora, no texto do novel artigo 152.º, agora crismado de «violência doméstica», ficou a constar que:
«1 — Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais:
a) Ao cônjuge ou ex -cônjuge;
b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação; (...) é punido...»
(bold e itálico meus).
Com aquela expressão a bold itálico o legislador quis abranger no âmbito de tutela deste tipo de ilícito os «namorados» ou «namoradas» (ou vice-versa...).
A ideia parece ser mais ou menos esta: se dermos umas cambalhotas juntos; se trocarmos umas carícias; ou simplesmente se dermos uns passeios, seremos como marido e mulher, mas-só-para-efeito-da-«violência doméstica».
O problema é saber se apenas uma cambalhota permite aceder àquele estatuto; ou se só a partir de duas (!); ou se dois beijos na cara são já suficientes!!!
Importante-mesmo-é-que-a-rapaziada-lá-do-bloco-e-seus-amigos-da-democracia-dos-afectos-tenha-uma-bandeirinha.
Proporcionar REALMENTE à vítima um espaço de liberdade, para que ela própria, com a sua autonomia, em plena liberdade e com total responsabilidade possa decidir o que realmente quer... Isso continua por fazer... E até parece secundário.
As soluções equilibradas dão, claro, muito trabalho a elaborar. São também muito mais difíceis de montar e fazer operar na vida real. Costumam também sair mais caras do que simplesmente alterar uns artiguelhos do Código e fazê-los publicar no Diário da República.
Feito como está cabe lá tudo; o que é o mesmo que dizer que não cabe lá nada...
E «a justiça» que se amanhe.
Começa no entanto a saber-se que, afinal, aquela malta da «unidade de missão» é mais fina do que parece, e o que quis realmente fazer foi deixar uma marca moderna, digo, pós-moderna, no «novo» Código Penal.
Para quem ainda não saiba, a proficiente expressão «relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação» tem como fonte inspiradora uma célebre anedota popular, que corre mais ou menos assim:
Um tipo volta-se para uma garina e diz-lhe:
- Olha lá, queres ter uma relação análoga à dos cônjuges comigo, mas mágica?
- Mágica?, pergunta ela.
- Mágica como?
- É assim, responde ele, nós temos uma relação análoga à dos cônjuges e depois tu desapareces!!!
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Ora toma. Já perceberam? Esta coisa de andar a meter anedotas no Código Penal não é para qualquer um. É coisa de génio. Está ao nível do Código Da Vinci. Oh se está.