Dia 4 de Agosto do ano da graça de 2007. Começo das almejadas férias. Com o bilhetinho na mão, aqui o artista zarpou para o aeroporto de Ponta Delgada, a fim de apanhar o aviãozito para as Flores (directo) e juntar-se à famelga e amigos, que já lá estavam. A partida estava aprazada para as 16.00 h (acho eu) e a duração prevista do vôo era de uma hora e vinte. Cheguei com cinquenta minutos de antecedência, fiz o check-in e 'bora lá para a sala de embarque. Passam as 16.00, as 16.30, as 17.00, as 17.20 e nada. Não há chamada e muito menos há qualquer explicação ao rebanho de autóctones e turistas a quem a SATA faz o favor de deixar pagar-lhe. Toda a gente percebe que há outros vôos atrasados, mas o inacreditável é que sempre sem explicação alguma a certa altura lá começam a deixar passar pessoas no portão de embarque destinado aos passageiros para as Flores e, quando este burro pagante, depois de alguns minutos mais de paciência na fila, mostra o cartão de embarque e o BI, a menina diz que estavam a embarcar era passageiros para um sítio não sei onde e que não era a ilha das Flores. Afastada a hipótese de lhe mandar um murro nas fauces, lá argumentei que nos monitores e no cartão de embarque dizia que para as Flores era ali - porta 6... Não serviu de nada. Eu e os demais tivemos de esperar que embarcasse o pessoal dos outros vôos, por acaso com marcação de partida posterior à nossa, tudo em ambiente de inenarrável confusão. Os turistas, esses, lá iam fazendo cara de quem não se deixa apanhar noutra; felicidade deles, que podem. Contas feitas, o avião lá arrancou, comigo a bordo, por sorte, tudo com mais de hora e meia de atraso.
Depois de uns dias nas Flores, regresso a Ponta delgada, com a famelga e amigos. Viagem no dia 11 de Agosto, partida marcada para as 14.00 ou assim. Mais meia hora de atraso, de novo a total ausência de qualquer explicação. Entretanto, o embarque fizera-se a conta gontas, com toda a gente a passar pela maquineta dos raios X (ou lá o que é) e além disso a abrir os sacos para mostrar às meninas - para não falar de serem revistadas uma em cada três pessoas. Talvez a Al-Qaeda esteja a preparar ataques em Ponta Delgada, pensei eu a tentar justificar aquele fervor securitarista. Já agora: o calor/humidade eram de rachar, mas ar condicionado na aerogare népias, e depois de o pessoal passar para a sala de embarque, não há onde adquirir bebidas; quem quiser que vá aos lavabos (porquitos) e beba água da torneira; foi assim que se passou um largo e normal bocado e mais a meia hora de atraso, com os miúdos a protestar que tinham calor e sede.
Dois dias depois, nova partida com a famelga, desta feita para Lisboa. A novidade foi não haver novidade especial, fora o normal atraso (vinte minutos), de novo sem explicação alguma. À chegada a Lisboa, no tal aeroporto que segundo dizem já não chega para as necessidades, cinco dos oito tapetes de recolha de bagagem estão paradérrimos - não fazem falta. Dos três que funcionam, um é destinado à bagagem do nosso e de mais três vôos. Confusão inacreditável e uma hora de espera pelas malas. Viajei em executiva e a bagagem é nesse caso suposto ser prioritária. Como sempre, está bem longe de ser a primeira a sair... Bom, pensei eu, agora que passou este calvário, deixa lá ir levantar o carro de aluguer. Fui quase tomado de uma apoplexia ao chegar ao balcão da National. A fila era quilométrica e levantar o carrito custou mais duas horas.
Regresso a Ponta Delgada, em 20 de Agosto, partida agendada para as 19.00 h, ou assim. Entrega do carro na recolha dos automóveis de aluguer e deslocação da famelga toda e mais abundante bagagem para o check-in. Como já sabia que agora há terminal especial para as gentes das colónias, lá procurei a maneira de dar com o sítio. Sinais havia. Foi esperar por uma camioneta, meter para lá as malas todas, esperar um bocadão com o motor daquilo a trabalhar e um calor do corisco e pronto; chegada ao famoso terminal II. Um barracão, sem lugares para estacionamento cá fora. Lá dentro, um espaço aberto, com os balcões de check-in em fila e cadeiras manifestamente insuficientes para os viajantes (quartos de banho só na área de embarque!). Foi preciso esperar um bom pedaço que um funcionário se dignasse abrir o balcão destinado aos passageiros em executiva e que já devia estar aberto há um grande bocado. Cumprida a formalidade, ala para o lounge da executiva. Fica num primeiro andar manhoso e a tropa subiu toda pelas escadas, com a bagagem de mão, porque o elevador está só para enfeite - não funciona. O terminal é para os vôos "domésticos" mas os jornais disponíveis eram todos estrangeiros (portugueses, só os da bola); e já agora a menina de serviço adverte, simpática, que naquele lounge não fazem chamada! Os Srs. passageiros têm de ir espreitando para os monitores e ver a fila do portão pela janela... No dito terminal para coloniais não há, ao contrário do outro, qualquer espaço para fumadores. Quem tem o triste vício, saia do terminal, até à rua, e mate-o aí. Acontece em muito lado, está certo, mas no outro terminal há espaços para fumadores, e a diferença irrita-me fortemente. E mais me irrita que naquele pardieiro não haja uma loja decente, enquanto a malta das "low costs" e toda a restante seita, gente que paga tarifas em geral substancialmente mais baratas do que as satisfeitas pelos açorianos à SATA, tem acesso à "H. Stern", ao "Harrod's", à "Casa do Vinho do Porto" e a tudo o mais.
Voltando ao calvário, de novo passam as 19.00, as 19.30. as 20.00, e explicações, que é bom, nada; viste-las. Pelas 20.30, isto é, com hora e meia de atraso em relação à previsão de partida, lá começam a fazer o embarque e vão os passageiros da executiva, malas pela mão e sem elevador, escadas abaixo, até ao portão de embarque, onde se metem numa fila e entram depois num autocarro (já só com lugares em pé, cheio como lata de sardinhas) que os transporta até ao avião. Avião da SATA? Náaa. O avião era de uma companhia chamada "White", ou assim, à qual não adquiri bilhete nenhum. Afinal sempre vôo numa "low cost" e explicações nada. Durante a viagem, o bilhete em executiva deu-me acesso à mais repugnante refeição que já me foi servida a bordo de um avião (não consigo imaginar que peixe era - o aeromoço garantiu que era peixe - ou em que consistia a papa repelente que o acompanhava), sem possibilidade de escolha de bebida. O miúdo, cansado, queria deitar-se. Quando se pediu uma almofada ao aeromoço, este disse que não havia e meia hora depois lá veio trazer um cobertor dobrado. O avião não tinha sido limpo (aparentemente não o era há muito), nas costas do assento à minha frente havia pingos de vómito secos e o estofo era sebento, não havendo sequer uma protecção para o encosto de cabeça. Isso mesmo, viagem toda com os cabelos da nuca assentes no sebo que a poltrona trazia.
Pelo menos à chegada a Ponta Delgada as bagagens foram das primeiras a sair. No mais, é assim que a SATA, a ANA e o Governo tratam os indígenas das colónias, essa malta badalhoca que é preciso afastar dos turistas e das pessoas importantes do continente. Não se pode acabar com a SATA, ou pelo menos liberalizar de vez as ligações? E o que fazem os políticos regionais face ao modo grotesco e insultuoso como os açorianos e quem os visite foram atirados para as traseiras do aeroporto de Lisboa, para um galinheiro ranhoso? Nada. Nada de nada. Os do momento têm o seu pessoal na dita companhia; os outros esperam vez para lá porem o próprio. Os açorianos vão pagando, calados, e ainda lhes é dito (com dinheiros de empresas públicas) que a SATA é uma empresa regional e motivo de orgulho, e que o "o aeroporto de Lisboa agora é mais aeroporto - há um terminal novo para os vôos domésticos" - só pode ser bom...
3 comentários:
O sr. César anda bem caldadinho porque é da seita do sr. Pinto de Sousa. Porque se a brilhante ideia do terminal especial para as colónias fosse do Sr. Mendes, era um cagarim que se ouvia no Corvo.
E as hospedeiras meu Deus, já vi por aí vaquinhas que as metem a um canto. Para já não falar da antipatia; nunca fui atendido com tanto desprezo e má vontade como este verão na SATA. Já não digo que estejam sempre a sorrir mas ao menos não façam cara de frete.
...e mais, eu não ia a cheirar a peixe como certos gajos que passaram oito dias mergulhados na convivência de tudo quanto era bicho com guelras...
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