Além da minha esposa, a legítima, mãe dos meus legítimos filhos, vem-me ocorrendo desde há uns tempos nutrir especial afeição por uma outra senhora, plausível mãe de outros meus putativos filhos, estes privados da normalização da família assente no casamento. Aliás, sucedede-me com frequência que meras atracções carnais degenerem rapidamente em vontade de constituir família, no sentido institucional do termo, pelo menos a fim de com sossego e frequência satisfazer sobre os objectos dessas vontades certos ânimos que por decoro aqui não convém expressar mas cuja exacta natureza facilmente se intui.
Naturalmente, usando de persuaviva diplomacia familiar e algum ascendente sobre os exemplares do sexo feminino (aspecto que por modéstia não encareço), penso lograr compatibilização das vontades da minha legítima e de mais uma ou algumas dessas outras senhoras. Sim, senhoras, embora admita sem custo que outros homens sejam indiferentes à junção de machos terceiros a esses conúbios plurais - ou até que os desejem.
Pela parte que me toca, já estava conformado com o facto de o conservadorismo social e a rigidez das formas jurídicas me não consentirem levar para casa toda essa tropa feminil, fazer-lhes ou não filhos e, mais do que isso, sancionar a festa com a constituição de vínculo matrimonial multilateral - eventualmente adoptando pequenada, para que partilhe de tanto amor familiar. Breve, sempre dei por adquirido que não havia qualquer hipótese de me casar com três gajas, por exemplo (ou até mais alguns gajos também, se a mim e a eles e elas para tanto desse a inclinação), ficando casado com elas e elas todas umas com as outras. Sublinho que quanto a mim só interessava mesmo era gajas, mas convenhamos que juntando ao pagode um ou mais gajos a ideia fica mais ou menos a mesma.
Desesperava, em mortificado silêncio e assustado anonimato, de alguma vez ver reparadas tamanhas incompreensões e injustiças. Eis, porém, que o clima político destes novíssimos tempos democráticos, abre novas perspectivas - uma clareira de esperança, nesta negra floresta de preconceito e opressão. O governo continua a prometer à Pátria cumes de modernidade social e a Sr. f., que é a um tempo seu oráculo e sua incansável paladina, veio agora, de novo, dar cabais mostras de ser minha aliada nesta matéria. Fio-me na sua infatigável capacidade de denunciar e desfazer o imobilismo retrógrado e, se a dita senhora defende o casamento de dois homes, ou de duas fêmas, não vejo por que não haja em rectas contas de defender, com iguais denodo e paixão, que eu me possa casar com duas ou mais tipas (algo afinal calmamente suportado por religiões não particularmente progressistas...), ou uma qualquer tipa com dois gajos ou mais, ou três gajos com outros dois e um largo etc. - é tudo uma questão de amor, parece, e de vontade para manter uma relação estável e gratificante.
Mais tarde, podemos todos casar com os periquitos, os gatos siameses, os peixinhos vermelhos e o mais que calhar, independentemente do sexo, é bom de ver: mal se compreenderia que uma mulher pudesse casar com um canário mas não com uma canária. Já vejo os interessados, a desfilarem pela Avenida da Liberdade, com tarjas, cartazes, gaiolas, casotas, aquários, tanques dos cágados e trelas, todos em alegre parada arco-iris, montes de fatos de látex, proclamações de orgulho na família multi-específica e exigências de descontar o "pedigree-pal" nos impostos.
Nota: esta posta é de certo modo um plágio; um pequeno furto que em momento de pouca inspiração perpetrei sobre o Sr. Dragão - que muito melhor do que eu exprimiu a ideia em questão.
18 comentários:
Há muito tempo que não me ria tão desbragadamente quanto o qque hoje me aconteceu ao ler os dois primeiros parágrafos.
Ele realmente há coisas...
Fantástico, Kzar! Humor e perspicácia. Ri-me a valer.
Cumprimentos
Excelente, como não podia deixar de ser. Uma bela risada logo pelo pequeno-almoço. Mas julgo que das poligamias que citaste, f. só não se oporia à poliandria. Vá-se lá saber porquê...
Kzar no seu melhor.
Aceita um conselho, amigo Kzar: deixa de ser tão reaça, pá. Moderniza-te, areja.
Olha, para começar, há que revolucionar o código civil. Eu lanço à discussão pública a minha proposta com um artigo único:
CÒDIGO CIVIL DA REPÙBLICA MODERNA PORTUGUESA:
art. 1º - Cada um faz como lhe apetecer e ninguém tem nada com isso. Se der bronca, logo se vê.
Quanto à bicharada, mais uma vez estás ultrapassado. Vê-se mesmo que nunca ouviste falar da senhora Ingrid Newkirk, uma activista apoiante da ética anti-especista advogada pelo sr. Peter Singer, um dos mais reputados filósofos contemporâneos no domínio da ética prática, e que defende que sim senhora, não podemos segregar os seres vivos não humanos com base na espécie, crime equiparável ao racismo. Só que, enquanto este discrimina com base no critério da raça, o outro, o novel crime, fá-lo com base no critério da espécie. Mas ambos são hediondos. Vai daí, a citada srª levou a coisa à letra, sem que o patrono inspirador a contrariasse, e deitou-se com um porco. Eu, que sou porco em todos os sentidos menos nesse, e face à fraca figura da senhora, lamento a má sorte do porco.
Fónix!
Uma vez falaram-me num filme porno (?) em que uma senhora de costumes devassos conhecia um porco. A coisa causou-me alguma repugnância, mas pronto, o melhor é ir-me habituando a esas modernidades. Qualquer dia ela e o porco casam e depois pedem a um advogado da ILGA que trate dos papeis para reconhecimento do matrimónio em, digamos, Las Vegas.
Tinha piada. O porco vestido de Elvis e ela de corista a casarem numa capela do deserto, cheia de neons.
Ó kzar, eu acho é que vossa excelência está apaixonado pela f. Um dia ela responde-lhe, tenha esperança.
Este blog é um bocado pró gótico. Vocês usam lingerie de latex preto? hhmmmm...
Gótico!?!
Lá a insinuação acerca de látex, isso ainda passa, pronto, mas essa coisa de "gótico" é quase tão insultuosa como a sugestão de uma qualquer espécie de paixão pela f. E ainda por cima que ela me possa "responder" - seja lá isso o que for, vindo dessa crtiatura. Gaita! Antes uma porca(salvo seja).
Kzar, kzar… deixa lá que quando a f. souber que existes, tenho a certeza que te manda um piropo. Quanto ao gótico, refiro-me a esse cenário negro do blog, com uns laivinhos de vermelho. Fico a imaginar-te de lábios pintados de vermelho, com eyeliner preto, e um chicote nas mãos a castigar a perversidade deste mundo. Ai, ai…
Anónimo/a:
Vexa está carente de tratamento psiquiátrico urgente.
Entretanto, com óbvio desconto do eyeliner e do batôn (por razões que certamente lhe são inacessíveis), a ideia do chicote não deixa de me agradar. Assim queira Vexa e posso dar-lhe uso (ao chicote) em sua confusa pessoa - ou, mais eficazmente, contratar quem o faça com o necessário vigor. É despesa que encararei como obra de mecenato e talvez me seja como tal considerada pelas finanças.
Acaso qualquer contingência social, designadamente constrição de anonimato, o/a prive do ansiado látego pelos lombos, propinado pela minha ou outra pessoa, sugiro-lhe o emprego da ponte Salazar. Será um tanto radical, talvez, mas tem eficácia garantida para lhe aquietar as ânsias.
hehehe, você fica mais charmoso quando se irrita, meu bem ;). A sério, ó kzar, eu sei que você é um tipo decente, pelos bons costumes, que não tem nada a ver com essa paneleiragem e devassidão que por aí grassa e por isso só me resta pedir-lhe encarecidamente desculpa. Eu estava a brincar. Mas que o seu blog tem uma aparência um bocado para o gótico, ó meu amigo, lá isso tem.
Juraria estar a ler o Dragão, por acaso... :D
Por esse andar qualquer dia o Kzar perfilha a fé do Islão com os seus jardins de deliciosas concubinas e com a herege instituição da poligamia. Esta, como se sabe, presta-se a servir o único macho dominante que terá à sua mercê as fêmeas que lhe aprouver. Claro que essa gente é bárbara e tal dissolução dos costumes deveria arder em purificante auto de fé.
Criado de tão ilustre Mestre, subscrevo-me atenciosamente,
Torquemada Suave
Prontos, se é assim tamos entendidos. Fica sanado o quid pro quo.
Agora isso de "gótico" é que me não sai do juízo.
"Góticos" não são aqueles descerebrados tipo satânicos, que pintam os olhos de preto, vestem de preto, usam cabelos esquisitos e, nos casos mais graves, fazem cenas tipo lamber o sangue uns dos outros - já para não falar, supremo mau gosto, de ouvirem uns ruídos estranhos e desarmónicos produzidos principalmente para os lados de Seatle, a que chamam música?
Ó pá, kzar, eu não lhe chamei gótico! Eu disse que o seu blog parece gótico, com esse preto e vermelho todo. São as cores dos góticos. Mas admito que você tenha feito a coisa assim para ser uma visão do inferno para assustar os devassos, homens sexuais e assim, e gajas doudas como a f. ;), hehehe
É fustigar a devassião dos costumes, ó Cicero Kzar! É assim mesmo!
Mas que rai de alarido é esse com o "gótico"? Pode um indivíduo levar na anilha o quanto entender. Pode até exigir que o Estado eduque as criancinhas a terem essas inclinações. Pode exigir que aturemos rapaziada do mesmo sexo de véu e grinalda. O que não se pode é ser ou sequer parecer gótico, o que quer que isso seja. Está tudo biruta ou quê?
Ó gertrudes, ó minha valquiria, tu para mim podes vir de gótica que marchas na mesma! O kzar é que é contra esses fetiches, eu não!
Quero que a Gertrudes, e o/a anónimo/a e tutti quanti se vão todos mas é casar uns com os outros, de véu e rabanete na anilha, e mais com meia dúzia de calhaus do cemitério, qu'eu 'tou farto dessa merda dos "góticos" ou lá o que é isso e mais os fetiches e o carago - isto aqui é uma casa de respeito e o Kzar é pessoa séria.
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