Cícero, denunciando Catilina no Senado

Cícero, denunciando Catilina no Senado

12 abril, 2007

Palhaços


Ursinho Doutor por Stanford
PhD de 1996 (foto anterior ao rasganço)

Foi absolutamente edificante, o espectáculo circense que ontem a têvê do Estado prodigalizou à nação. Dirigido a "esclarecer" as massas sobre o impoluto carácter do Sr. Pinto de Sousa, oficiante principal do nosso actual desgoverno, tornando-as cientes da magnitude da "campanha" de maledicência que o aflige (fundada em insinuações cuja torpeza apenas é igualada pela ausência clamorosa de fundamento sério), terá atingido cabalmente esse alto objectivo - ao menos a fazer fé na "sondagem" telefónica com que a SIC Notícias, privada do mediático exclusivo, avaliou o alcance do acontecimento na duvidante psique colectiva da população; ao início da madrugada, fomos informados de que à pergunta "considera que os esclarecimentos do primeiro-ministro foram suficientes?" (ou algo assim...), 61% dos lusitanos teriam respondido um aquietado SIM, e apenas 39% um céptico NÃO...

Intrépidos, com certeira e pertinente fúria perguntadora, os Srs. jornalistas assediaram o venerando primeiro-ministro fustigando-o com questões árduas e inquisidoras. Nada todavia lhe perturbou a serenidade dos puros. A tudo respondeu em jeito conciso e directo, dissipando qualquer dúvida sobre a inquestionável honestidade da obtenção e exibição dos seus tonitruantes graus académicos. Desde exibir as papeletas do ensino em protesto indignado de ser dótôr tão bom quanto os demais, até considerações benevolentes sobre a pessoa do Eng.º Belmiro, Sua Excelência nada escamoteou ao país.

O povo, em sua sadia simplicidade e inesgotável boa fé, tem-se por cabalmente satisfeito e ressarcido de qualquer angústia que a sombra da dúvida lhe houvesse infligido. É porém de temer que entre os tais 39% militem, com escura má vontade e colmilhos escorrentes de baba infecta, todos esses intelectuais mesquinhos que se preocupam com minúcias académico-burocráticas, não mostrando fé na rija e honrada palavra do Sr. primeiro-ministro (para mais afiançada pelo probissímo Professor Jorge Coelho, em directo na SIC Notícias), ou na documentação brandida, e nem no salvífico "rumo" que putativamente vem imprimindo à barca da nação. Deus os confunda, ou lhes perdoe, como for a Sua insondável opção.

A esses nada contenta, determinados que estão a trilhar as vias da calúnia, do boato, da difamação, e só por isso estranham, doentios, que Sua Excelência haja corrigido o boletim para a memória biográfica do parlamento apenas "para melhor esclarecimento", ou as peripécias do professor quadruplamente regente, ou ainda os livros de termos sumidos, tudo já nem falando de coisas verdadeiramente insignificantes como enissões de documentos aos domingos ou o alegre e aplicado correr de um ano lectivo sem apresentação do certificado comprovativo das habilitações que dele possibilitariam frequência.

Favorecimento? Emprego abusivo de títulos? Pressões censórias sobre jornalistas? Tudo isso são calúnias, salpicos de lama que o Portugal senil, decrépito e atrasado procura lançar sobre o jovem e determinado timoneiro. Em vão, porque o teremos ainda e sempre ao leme, inçado de reformas grandiosas, conduzindo a Pátria a prados verdejantes de progresso, desbravando horizontes de modernidade, rumo a êxtases de desenvolvimento e à fulgurante liderança da "Europa", tudo a poder de franqueza com as massas, transparência e inquebrantável enfrentamento dos "interesses corporativos".

Só a tal minoria continuará, caquética, a murmurar que o homem trambicou uma licenciatura, que para o efeito se pôs de conúbio com os áulicos de uma universidade de poacotilha, que os ditos lhe fizeram um jeitaço e que aí está, um Sr. Engenheiro, um pobre triste que se sentia diminuído por não ostentar a grandeza de um título e agora, depois de o ter urdido, se lembra tardiamente que os graus académicos não fazem o valor dos Homens, ou pelo menos não são o único modo de fazê-lo.

Por mim, reaccionário obtuso, conservador empedernido, retrógrado ultramontano, sou daqueles últimos, da tal minoria. Tenho o ser em causa por um vulgar aldrabão; de resto, já tinha antes desta trapalhada, a qual, a ter ocorrido no tempo do Sr. Santana Lopes, já teria valido ao país comoção bem mais larga, e quem sabe fulminantes dissoluções, a pretexto de um doutor da mula russa não poder governar um país que se respeite.

Mas é este o Portugal reformado: universidades "Simplex", atribuidoras de "diplomas na hora". Consola-me a ponderação de que, lá bem no fundo, o Sr Engenheiro sabe, e sabe que os outros sabem, que não passa de um pobre medíocre, que fingiu um título por pensar que isso fazia dele pessoa de mais substância.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto. É revoltante e indecoroso a operação de propaganda a que assistimos ontem. O pobre do «jornalista nem foi capaz de o confrontar com a palvra «pressões» para designar as pressões que ele é acusado de ter feito a jrnalistas. Usou as expressões «fala com jornalistas?» e «telefona a josrnalistas?»...
Mas realmente o bom povo português, se as sondagesn não mentem, continua igual a si mesmo. Em espanha o aznar caiu porque mentiu (numa situação incomparável), nos EUA o clinton caiu porqu mentiu ( e não porque comeu a gorda). mas a maltosa cá vê mais longe. è malta que topa pedófilos pela «pinta» e primeiros ministro impolutos plea gravata... Sinto-me orgulhosamente um dos 40%, mas tenho pena deste miserável país e dos seus comentadores da corte.
Mefistófeles (wwwtapornumporco.blogspot.com)
P.S. Meu caro Kzar, o tapor espera os teus textos lúcidos, ainda mais sobre esta matéria. Ou agora o catilinário tem o exclusivo, hã?

Anónimo disse...

Mefistófoles, obrigado pá!
E de toda a maneira não passa a haver exclusivo nenhum! Era o que faltava! Sempre que puder hai-de mandar alguma coisa pró Porco. Sou é um barrasco preguiçoso e como estou de pegar nisto do Catilinário, a coisa complica.

Kzar