Cícero, denunciando Catilina no Senado

Cícero, denunciando Catilina no Senado

01 fevereiro, 2008

Um dia negro

Há cem anos a desgraça abateu-se sobre Portugal. Dois malvados, o Costa e o Buíça, foram a mão executora dos escuríssimos desígnios de outros desalmados piores ainda. Estes últimos jazem no Panteão, têm estátuas e placas pelo país fora, foram figuras de proa do catastrófico e maléfico regime de opereta que dois anos e pouco depois do regícidio eles mesmos vomitaram sobre a Pátria, e enfim deixaram uma descendência política que anualmente, a 5 de Outubro, como súcia de vampiros, sai das lojas e se junta aqui e ali, decrépita, leprosa, asquerosa, a lançar "vivas" senis a essa meretriz da república.

Desde a infâmia, Portugal foi sempre decaindo, cada vez mais, de torpeza em torpeza, esmagado por uma pilantragem pelintra e voraz para a qual não encontrou ainda remédio. Além disso (maravilhas da falta de memória), há quem chegue a alçar o crime à dignidade de gesto benfazejo e "libertador" (!), fazendo dos carbonários e dos pedreiros republicanos em geral, como de praticamente todos os demais psicopatas da política nacional de então, uma espécie de campeões do povo e, pasme-se, da democracia - a linda democracia outorgada à nação em 1910, como se antes houvesse ditadura, e cuja tumultuária selvajaria engendrou finalmente a ditadura corporativa, infeliz mas imprescindível acto de higiene que a mesma nação teve que suportar ainda por várias décadas.

Tudo isto já nada mais é do que "momentos perdidos no tempo como lágrimas à chuva"*. Basta recordar, para ter noção do calado da tragédia, a crua e imediata dimensão humana respectiva, prenúncio alegórico do que à Pátria cedo viria: um Rei bom e um Princípe Real inocente, pai e filho, abatidos a tiro à vista da mulher e mãe; uma mulher e mãe, mais do que Rainha, aflita, procura proteger a família e afastar os monstros com aquilo que tem na mão - um ramo de flores.


Muitos anos depois, em Paris ocupada, esta Senhora, francesa de nascimento, idosa, exilada, hasteava na sua casa a bandeira nacional - a feia bandeira trazida pela república celerada, mas em todo o caso a bandeira nacional. Quanto à actual Constituição desta vil república que temos, reza, impante e avara, no seu art. 288.º, al. b), que não pode ser revista sem respeito pela forma republicana de governo, assim pateticamente assumida como presuntivo sinónimo de democracia e proclamada como uma espécie de alcançada meta da História. São formas de estar.


* Phillip K. Dick, "Do droids dream on electric sheeps"

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente postal...mas tanta verve e justiça são pérolas atiradas a porcos. Independentemente da perspectiva de cada um faz-me espécie que o Estado apenas imponha como dogma a universal e irrenunciável fórmula Republicana. Que diria a cáfila do costume acaso um "Buíça" pós-moderno, e de simpatias Monárquicas, fizesse uso de uma Uzi em beatíficas figuras da República a bem da Coroa ???
JNAS

Monsieur Le Marquis disse...

A Bandeira é feia, muito feia, os rostos desta república mais feios são e o pior é que nos fazem engolir a dita como o único caminho. Pobres de nós. Estamos rodeados de Anibais e Marias e Albertos Joões e Jerónimos e afins e não há solução à vista. Pelo menos, por razões estéticas, a Monarquia salvaria este Portugal baço e triste a celebrar as suas revoluções de cravos...

Monsieur Le Marquis disse...
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