Cícero, denunciando Catilina no Senado

Cícero, denunciando Catilina no Senado

28 outubro, 2007

Referendo ao Tratado de Lisboa



Em contra-ciclo, numa altura em que o «pensamento único» vem martelando nas consciências a desnecessidade de legitimação democrática do Tratado Reformador da Europa, o deputado Mota Amaral vem mostrar que a política também pode ser uma coisa séria e avança com uma proposta de referendo do Tratado de Lisboa, no mesmo dia, em todos os 27 Estados da União Europeia.
O problema é delicado porque tem associados riscos muito sérios (basta relembrar o que se passou com a «Constituição Europeia»). Mas a democracia não pode ser uma coisa boa apenas quando convém. E os políticos não podem continuar eternamente a construir a Europa nas costas dos povos, porque o fosso que se vai cavando terá um preço a prazo. É certo que para quem tenha visão curta ou a quem a vaidade tolha a razão isso não é muito relevante. Mas não se deve reduzir uma ideia generosa e um seguro de paz e de progresso da Europa ao prestígio pessoal deste ou daquele político ou mesmo deste ou daquele país. A legitimação deste Tratado, através de uma consulta directa aos cidadãos, recoloca a democracia no centro da construção europeia. E isso só pode ser um bem.
A ideia do deputado açoriano tem, pois, pernas para andar. Esperemos para ver se consegue mobilizar a opinião pública europeia, já que dos cozinhadores do tratado só há que esperar a tentativa da sua neutralização.

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas alguém pensa, com sinceridade, que se o tratado for a referendo em Portugal há qualquer hpótese, por ínfima que seja, de ser "chumbado"? Então para que é que serve?

Júlio dos Is disse...

É por causa desta coisita chata a que chamamos democracia. Ou esta só serve para as dúvidas e para as teimas? E estamos dispostos a aceitar a dispensa dos votos e passar a bolinar com sondagens? Enfim, é sempre mais difícil explicar o óbvio.

Anónimo disse...

E então o Parlamento não é democrático?
O indígena luso, nunca por nunca votaria contra a ratificação do tratado. Isso era o mesmo que matar a galinha dos ovos de ouro. Para uma sociedade imobilista e de mão estendida como a nossa isso é impensável. Às vezes, como é o caso, é preciso não esquecer que isto não é a Dinamarca ou a Inglaterra. De qualquer modo, se a rapaziada quiser armar em "suiço" durante um fim-de-semana, tudo bem, até pode ser divertido.

PS: aconselho-te, a crónica do Pulido Valente, 6.ª-feira no Público.