Isto é que é terrorismo, acho eu, e parece que aconteceu num posto da PJ no Algarve. Bem escusavam de ir ao Porto prender terroristas quando já os têm na esquadra...
Terrorismo, nem mais. Depois de larga temporada em que deixaram uma horda de facínoras campear pelas zonas de diversão nocturna da Invicta, as autoridades policiais e o MP tomaram-se de brios, acicatados como de costume pela gritaria mediática e vai daí trataram de fazer alguma coisa - e quando digo alguma coisa, é mesmo qualquer coisa, não importa o quê.
A um certo nível, os comportamentos sociais das pessoas são como os de outros quaisquer animais: se um território está vago, uma matilha ocupa-o fácil e naturalmente. Neste particular, o porteiro de discoteca é muito representativo. Uma espécie de hiena. Caso não haja leões bastantes, toma conta da savana. E foi isso o que se passou nas xicotecas e cabarés do Porto. A míngua de bófia que vigie e ponha cobro a desmandos, ou preferencialmente os desmotive, levou a que uma tropa de gangsters matulões andasse por ali como cães por vinha vindimada. Fizeram o que queriam por longo tempo e, quando a guerrinha dos territórios de extorsão e outras malfeitorias lucrativas aqueceu, começaram a limpar-se uns aos outros, à força de bala.
Pela minha parte, acho muito bem. A espécie dos porteiros de xicoteca, mais ou menos mafiosos, só me implica com os nervos quando começa a malhar em clientes, bêbados ou não, o que aliás é frequente e sucede com relativa impunidade. Já quando largam a matar-se uns aos outros, e aos proprietários que lhes pagam, não consigo impedir-me de sentir uma certa satisfação higiénica. Porém, concedo em que isso não fica bem nem é coisa que deva admitir-se num país proto-civilizado como o nosso, razão pela qual estimo ser legítimo que a boa burguesia se indigne e a imprensa exija "medidas".
Pois foi o que as autoridades deram: medidas. Num Domingo pela manhã, a PJ foi a correr prender uns malandros e fazer-lhes buscas nos domicílios, obviamente acompanhada pelas televisões, que filmaram tudo. Devem ter sido os advogados dos malandros que violaram o segredo de justiça... Na terça-feira seguinte (dá a ideia de que às Segundas a PJ não trabalha - ou que esteve à espera da nova starlette do MP vinda da capital...), os indigitados meliantes lá foram apresentados a juiz, como cumpre. Crimes imputados: sortidos, como habitualmente, mas entre eles lá vinha o de terrorismo. À falta de membros da Al Qaeda a que deitem a mão, a PJ e o MP fazem up grade a uns gangsters da Invicta e mostram que também entraram na modernidade do "combate global".
A juiz, malandra, é que não quis saber de modernices. Dos onze presuntivos bandidos que lhe mostraram, após falar com eles e com respectivos advogados e examinar as provas que a existirem lhe terão de ter sido apresentadas, tudo como cumpre, pôs logo sete cá para fora, com o simples e obrigatório TIR, o que logo sugere que ou não viu prova de coisa nenhuma quanto a esses tipos, ou lá achou que não ofereciam perigo de actividade criminosa, nem de atrapalharem a investigação e nem ainda de se porem a milhas. Fracos "terroristas" estes. Os restantes, talvez mais assustadores, ficaram em prisão preventiva, mas de terrorismo entretanto deixou de falar-se.
O que já parece não haver meio de calar é a sarilhada da PJ que faz o que quer ("agiu" à pressa e antes que o procurador mor, da Capital, mandasse a tal starlette e mais comandita), sem a mais ténue réstia de aparência de que o MP ainda a controle; das baronesas, marqueses e duques do MP que desataram à lambada por terem sido preteridos no lançamento para o estrelato; enfim, do procurador mor que entendeu necessário enviar uma procuradora sua núncia de Lisboa ao Porto sem que se perceba se nesta última cidade não os há (procuradores) em condições.
Portugal é assim e com efeito é um terror. Vou espairecer pelo Natal e só volto no começo de Janeiro.