Cícero, denunciando Catilina no Senado

Cícero, denunciando Catilina no Senado

16 maio, 2007

É oficial - acabou!

A sucessão dos acontecimentos na gestão do Município de Lisboa e o inesperado (?) agendamento de eleições para a câmara respectiva, ditaram antecipação dos rituais próprios do ciclo eleitoral que caracteriza a degenerescente terceira república que temos. Anteontem, dia 14 de Maio, as eleições foram marcadas. Ontem, 15 de Maio, a télévisão pública anunciava, no noticiário das 20.00 h, dois factos sumamente agradáveis:
1 - A crise está no fim, tem os poucos dias contados e a terra lhe pese como chumbo. O crescimento aumentou e até já há economistas que, quais sacerdotisas de Delfos, lobrigam, algures, "sinais de convergência" com as demais economias europeias. Uau! Fantástico!
2 - O desemprego diminuiu, a sua alma não encontre paz. O mês passado, garante o IEFP, heraldo da felicidade próxima e quase tangível da nação, houve menos não sei quantos mil desempregados do que no Abril de 2006; e pasmai, ó gentes, o mesmo heraldo assevera que a descida do número dos desempregados alcançou por igual, com seus benfazejos efeitos, "os segmentos dos jovens e dos adultos" - parece que ninguém fica de fora, neste festim de alegrias nacionais.
Siderado com a inopinada benignidade da nova situação, desprovido de palavras com que adequadamente exprima o meu contentamento, fulgurado, enfim, com as rutilantes argúcia e perícia governativas do nosso primeiro, Sr. Eng.º Pinto de Sousa, o qual entre procelas medonhas assim traz a nau do Estado a tão bom porto, razoo, em todo o caso, que a tal questão das eleiçõezitas não é estranha à súbita brisa de prosperidade que nos vai impulsionar pela popa. Vale dizer, à sagaz determinação do nosso homem do leme ter-ser-á somado um qualquer efeito feliz do agendamento das eleições.
Naturalmente, a infausta simplicidade do meu espírito não consente que extraia da secura das meninges um nexo de causalidade daqueles precisos, exactos e indubitáveis que ao Sr. Gato fedorento motivariam um hilariante "ora aqui está um nexo de causalidade daqueles mesmo de causalidade, que a gente olha e diz: é pá, isto é um nexo de causalidade".
Não me quero todavia fazer culpado de cepticismo excessivo e por isso não enveredo, incréu, pela desconsideração da sucessão dos acontecimentos com argumentos cínicos do tipo daquele que diz que correlação e causalidade não são a mesma coisa. Sou muito pão pão, queijo queijo, e há larga cópia de anos que trago em uso, com assinalável sucesso, a velha máxima segundo a qual hoc post facto ergo propter facto.
Eu explico: se isto está uma desgraça vai para mais de dois anos e de repente, marcadas eleições para a câmara de Lisboa, o desemprego diminui e a economia cresce, as duas coisas logo no dia a seguir, então para mim as eleições fizeram bem à economia e ao emprego - e mais nada!
Partindo daqui, atrevo-me a fazer às pessoas da governança uma sugestão que me dita o bom senso de um pai de família conservador e obtuso, talvez, mas de boa vontade, certamente: é marcar eleições cada quinze dias e nunca mais o país e o povo experimentam as arreliantes crises que os fazem "divergir" da Europa. A poder de votos não tardam dez anos para que olhemos com sobranceria os pelintras do Luxemburgo ou ofertemos aos esforçados alemães emprego nas nossas obras de construção civil.
Seja como for, isto é, sigam ou não o meu conselho, para já sursum corda: a crise acabou, e isso é oficial (já não é uma simples gaffe do ministro Pinho).

4 comentários:

Anónimo disse...

Olha lá grande Kzar, aqueles três da fotografia são quem eu penso que são?

FMS disse...

Stat rosa pristina nomine, e tal, não lhe mexas :D

Anónimo disse...

Olha que isto não me tinha passado pelo neuronal, por toutatis!...

é uma correlação abenzoada por um nexo causal...

Professor Howdy disse...


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